Regiões vinícolas do litoral vão beneficiar do aquecimento global
As regiões vinícolas mais próximas do mar vão beneficiar do aquecimento global e melhorar a qualidade dos vinhos, prevêem especialistas envolvidos na primeira avaliação feita em Portugal sobre o impacto das alterações climáticas na viticultura.
Mas os efeitos não serão só positivos e a água será essencial para minimizar os problemas, alerta Carlos Lopes, um dos responsáveis do projecto SIAMVITI, que arrancou no início deste mês e estará concluído dentro de três anos.
"Sendo uma cultura perene, a vinha sofre efeitos cumulativos e já se começam a notar problemas que exigem medidas de adaptação. Decidimos avançar com este trabalho porque a viticultura é um sector importante e estratégico para o país e não há nenhum estudo que permita fazer esta avaliação", acrescenta o professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA).
"Temos vindo a verificar situações de stress hídrico (falta de água) e térmico (excesso de calor), sobretudo nas regiões a Sul do Tejo, que se acentuaram nos últimos dez a vinte anos", explicou o académico.
O escaldão das folhas e dos cachos, com repercussões no crescimento da planta e na qualidade das uvas e do vinho, e a antecipação da vindima devido ao desenvolvimento precoce da cultura, são algumas das consequências.
"Se calhar, em vez de se fazer a vindima em Setembro passa-se para Agosto", admite Carlos Lopes. As mudanças vão sentir-se igualmente no vinho.
Com a maturação precoce, "há uma acumulação rápida de açúcares e redução da acidez". Resultado: vinhos desequilibrados (ou "chatos" no jargão dos enólogos) com grau alcoólico mais elevado, menor acidez e alterações a nível da cor e dos aromas.
Mas o aquecimento global traz também benefícios: "as regiões de influência atlântica, mais próximas do mar, beneficiam destas alterações climáticas, permitindo obter uvas mais maduras". Regiões onde antes existia "alguma dificuldade em amadurecer as uvas tintas", como Lisboa e a Bairrada ,são das que podem sair mais beneficiadas, melhorando a qualidade dos vinhos.
"Se tivéssemos água suficiente para atenuar os problemas nas regiões mais quentes, o balanço [do impacto das alterações climáticas] seria quase positivo", admitiu o especialista do ISA.
O SIAMVITI é um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e está a ser desenvolvido pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA) com o apoio de outras entidades, como a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.